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Bicho de pelúcia virou coisa de adulto?
Por Administrador
Publicado em 28/12/2025 11:44
Geral

Imagine o quarto de alguém na casa dos vinte e poucos anos… A decoração, os objetos, os desenhos espalhados pelo espaço. Agora repare em um detalhe que parece fora de lugar: um ursinho de pelúcia. Pode soar estranho, mas não é incomum.

Nos últimos meses, imagens de jovens adultos exibindo pelúcias, bonecos Labubu e personagens “fofos” tomaram o TikTok e o Instagram. O que poderia ser visto apenas como trends com data de validade revela algo maior.

Um relatório recente da Circana mostra que 43% dos adultos no Reino Unido compraram brinquedos para si mesmos ou para outros adultos neste ano. Entre consumidores de 18 a 34 anos, esse número salta para 76%.

Na prática, adultos passaram a sustentar uma fatia relevante da indústria dos brinquedos, enquanto crianças trocam bonecas e carrinhos por telas e tablets.

Nostalgia como resposta ao caos

Segundo dados do GWI15% dos jovens preferem pensar no passado em vez do futuro, e quase metade demonstra apego emocional a referências culturais que antecedem o próprio nascimento. Os números ajudam a dimensionar esse movimento:

  • As vendas de discos de vinil cresceram, em média, 18% ao ano nos últimos cinco anos, e cerca de 60% dos jovens afirmam comprar discos, segundo o relatório Audio Tech Lifestyles, da Futuresource Consulting.

  • Em 2024, os vinis superaram os CDs e passaram a representar 76,4% das vendas de mídias físicas, consolidando o formato como um “novo velho hábito” entre consumidores jovens.

  • O mesmo acontece com tecnologias consideradas ultrapassadas: as buscas por câmeras digitais cresceram até 563% em 2024, com a Geração Z liderando esse resgate.

O que realmente é interessante: Mais do que consumo ou estética, tudo isso funciona como âncora emocional. Em contraste com uma vida hiperconectada e performática, o analógico passou a cumprir um novo papel: o de regulação emocional coletiva.

(Imagem: Getty Images)

O foco é desacelerar, criar pertencimento e recuperar algum senso de controle em meio ao caos.

Mas vai além da nostalgia… O fator “Rir para não surtar”

A Geração Z já ganhou o rótulo de the unserious generation. Mas o tom leve engana. Na prática, o humor vira um mecanismo de sobrevivência ou de fuga dos desafios da realidade — a velha lógica de rir para não surtar.

Vídeos dançando na chuva durante furacõespiadas sobre uma possível Terceira Guerra Mundialget ready with me para o apocalipse são bons exemplos.

A ciência explica parte da história 

Outro estudo recente da Universidade de Cambridge apontou que o cérebro humano permanece em “fase adolescente” até os 32 anos. É o período de maior eficiência neural, mas também de maior sensibilidade emocional.

(Imagem: Getty Images)

Ou seja, do ponto de vista biológico, muitos jovens adultos ainda estão consolidando identidade, vínculos e sensação de segurança, justamente em um mundo que oferece cada vez menos estabilidade.

Amor, trabalho e o medo de se comprometer

Esse atraso simbólico da vida adulta aparece também nos afetos. Noutra pesquisa, 75% dos jovens estavam solteiros e não se relacionavam durante a pandemia — um dado que ajuda a entender a ruptura afetiva que se consolidou nos anos seguintes.

Desde então, o termo burnout amoroso ganhou força, representando uma aversão aos aplicativos de namoro, medo de se apegar e uma vigilância constante sobre “red flags” e “icks”.

Relacionar-se virou um campo minado: muita expectativa, pouca entrega e alto custo emocional.

No trabalho e no dinheiro, a lógica é parecida. Dados recentes mostram isso:

  • 27% da Geração Z têm mais dívidas do que economias, reflexo de um consumo mais imediato e da descrença no longo prazo;

  • 58% dos jovens aceitam um emprego sem intenção de permanência;

  • 46% dos jovens concorda com a afirmação: “Não importa o quanto eu trabalhe, nunca serei capaz de comprar uma casa que eu realmente ame”.

Infantilização ou adaptação?

A geração claramente demonstra dificuldades de lidar com frustrações inevitáveis da vida adulta. Como consequência, surge esse “escapismo” da realidade, que se materializa através do consumo e dos comportamentos. O ursinho de pelúcia aos 20 e tantos anos é só a ponta do iceberg…

 

fonte: the news

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