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Na madrugada do dia 28 de outubro, 2,5 mil policiais civis e militares entraram no Complexo do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, na mais letal operação da história do estado.
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Até o dia de hoje, foram contabilizados mais de 120 mortes, sendo 4 delas de policiais.
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(Imagem: Tomaz Silva / Agência Brasil)
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A cena é retrato mais recente de um país onde o crime organizado deixou os presídios e passou a disputar o controle do território, da economia e até das finanças.
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Hoje, há presença de facções em todos os estados brasileiros. Duas se destacam em maioria. O Primeiro Comando da Capital, o PCC, e o Comando Vermelho, o CV, com maior atuação em SP e RJ, respectivamente.
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Essas organizações já movimentam milhões em lavagem de dinheiro, contrabando, fraudes em combustíveis e até fintechs de fachada.
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O resultado é um país onde o crime se sofisticou mais rápido que o Estado — e onde a pergunta já não é se as facções estão crescendo, mas o quanto do Brasil elas já controlam.
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Para começar, precisamos entender por onde elas nascem.
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O Comando Vermelho
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Nascido no fim dos anos 70, quando uma aliança entre presos comuns e presos políticos surgiu dentro da prisão de Ilha Grande. Juntos, criaram regras de convivência e estrutura de poder que com o tempo ganhou o nome de Comando Vermelho.
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Nos anos 1980, o grupo se espalhou pelas favelas do Rio. A ausência do Estado e a expansão do tráfico criaram o terreno ideal para que o CV se consolidasse como um governo paralelo, cobrando taxas, impondo regras e controlando o cotidiano das comunidades.
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(Imagem:
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Das 1.724 favelas existentes no Rio de Janeiro, cerca de 828 são comandadas pelo CV. Cada uma delas com um líder, diferentes chefes e territórios fragmentados.
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Esse documentário pode te ajudar a entender melhor.
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Primeiro Comando da Capital
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Nascido em 1993, em São Paulo. 8 presos se uniram após o massacre do Carandiru para criar uma organização que garantisse proteção, hierarquia e retaliação.
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O grupo funcionava como uma empresa: regras, caixa comum, mensalidade e um estatuto que proibia roubos entre integrantes. Com o tempo, virou um negócio milionário, controlava o comércio de drogas nas ruas, cobrava “pedágios” de criminosos independentes e investia em logística.
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Nos últimos anos, o PCC passou a operar também no sistema financeiro. Investigações apontam lavagem de dinheiro em fintechs e empresas de fachada.
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(Imagem: Folha de S.Paulo)
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Hoje, estima-se que o grupo tenha em torno de 40 mil membros, sendo a maior organização criminosa da América do Sul, com presença em mais de 20 países.
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O tamanho do poder
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Imagine o volume de dinheiro que circula por essas redes. As facções hoje vivem além do tráfico: possuem imóveis, postos de gasolina, transportadoras, empresas de fachadas e até fundo de investimentos.
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Cada comunidade ou estrada dominada garante receita constante por meio de extorsão e cobrança de taxas. Em muitas regiões, o poder público é presença só no papel.
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Esse arranjo explica parte da força que elas têm. Quando o crime ocupa funções básicas — garantir renda, impor regras, resolver conflitos —, ele deixa de ser apenas ilegal e passa a ser funcional.
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Para o morador da comunidade X, pouco importa se a ordem vem de um comandante ou de um governo: o que vale é saber quem realmente manda ali.
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É nesse ponto que o Estado brasileiro mais falha — não por falta de armas, mas por ausência de presença.
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O PCC e o CV entenderam que o poder não está só na violência, mas na previsibilidade. Um fornece “proteção” e crédito nas comunidades; o outro administra o fluxo financeiro e mantém disciplina dentro e fora das prisões.
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São modelos complementares que, juntos, constroem uma forma de governança paralela.
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O Estado, dividido entre esferas e interesses, tenta conter um problema que já é estrutural. O resultado é um país com dois regimes em operação:
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Um, formal, sustentado por leis e burocracia.
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Outro, informal, movido por dinheiro e coerção.
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As facções já entenderam como navegar entre os dois. Controlam rotas, portos, empresas e pessoas — e, indo além, aprenderam a se misturar à economia legal.
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Se você espera a resposta para o título dessa história… Na verdade, a questão aqui não é se o Brasil caminha para se tornar um narcoestado. É perceber que ele já vive parte dessa lógica: um Estado onde o crime, em diversas regiões, já coleta, administra e investe melhor do que quem deveria controlá-las.
fonte: secom
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