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O Brasil já virou um narcoestado?
Por Administrador
Publicado em 02/11/2025 14:19
Geral

Na madrugada do dia 28 de outubro, 2,5 mil policiais civis e militares entraram no Complexo do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, na mais letal operação da história do estado.

Até o dia de hoje, foram contabilizados mais de 120 mortes, sendo 4 delas de policiais.

(Imagem: Tomaz Silva / Agência Brasil)

A cena é retrato mais recente de um país onde o crime organizado deixou os presídios e passou a disputar o controle do território, da economia e até das finanças.

Hoje, há presença de facções em todos os estados brasileiros. Duas se destacam em maioria. O Primeiro Comando da Capital, o PCC, e o Comando Vermelho, o CV, com maior atuação em SP e RJ, respectivamente.

Essas organizações já movimentam milhões em lavagem de dinheiro, contrabando, fraudes em combustíveis e até fintechs de fachada.

O resultado é um país onde o crime se sofisticou mais rápido que o Estado — e onde a pergunta já não é se as facções estão crescendo, mas o quanto do Brasil elas já controlam.

Para começar, precisamos entender por onde elas nascem.

O Comando Vermelho

  • Nascido no fim dos anos 70, quando uma aliança entre presos comuns e presos políticos surgiu dentro da prisão de Ilha Grande. Juntos, criaram regras de convivência e estrutura de poder que com o tempo ganhou o nome de Comando Vermelho.

  • Nos anos 1980, o grupo se espalhou pelas favelas do Rio. A ausência do Estado e a expansão do tráfico criaram o terreno ideal para que o CV se consolidasse como um governo paralelo, cobrando taxas, impondo regras e controlando o cotidiano das comunidades.

(Imagem:

  • Das 1.724 favelas existentes no Rio de Janeiro, cerca de 828 são comandadas pelo CV. Cada uma delas com um líder, diferentes chefes e territórios fragmentados.

  • Esse documentário pode te ajudar a entender melhor.

Primeiro Comando da Capital

  • Nascido em 1993, em São Paulo. 8 presos se uniram após o massacre do Carandiru para criar uma organização que garantisse proteção, hierarquia e retaliação.

  • O grupo funcionava como uma empresa: regras, caixa comum, mensalidade e um estatuto que proibia roubos entre integrantes. Com o tempo, virou um negócio milionário, controlava o comércio de drogas nas ruas, cobrava “pedágios” de criminosos independentes e investia em logística.

  • Nos últimos anos, o PCC passou a operar também no sistema financeiro. Investigações apontam lavagem de dinheiro em fintechs e empresas de fachada.

(Imagem: Folha de S.Paulo)

  • Hoje, estima-se que o grupo tenha em torno de 40 mil membros, sendo a maior organização criminosa da América do Sul, com presença em mais de 20 países.

O tamanho do poder

Imagine o volume de dinheiro que circula por essas redes. As facções hoje vivem além do tráfico: possuem imóveis, postos de gasolina, transportadoras, empresas de fachadas e até fundo de investimentos.

  • Hoje, menos de 5% da receita dessas organizações vem da cocaína, por exemplo. A maior parte são golpes virtuais e atividades relacionadas a extorsão mediante violência ao ocupar territórios.

Cada comunidade ou estrada dominada garante receita constante por meio de extorsão e cobrança de taxas. Em muitas regiões, o poder público é presença só no papel.

Esse arranjo explica parte da força que elas têm. Quando o crime ocupa funções básicas — garantir renda, impor regras, resolver conflitos —, ele deixa de ser apenas ilegal e passa a ser funcional.

Para o morador da comunidade X, pouco importa se a ordem vem de um comandante ou de um governo: o que vale é saber quem realmente manda ali.

É nesse ponto que o Estado brasileiro mais falha — não por falta de armas, mas por ausência de presença.

O PCC e o CV entenderam que o poder não está só na violência, mas na previsibilidade. Um fornece “proteção” e crédito nas comunidades; o outro administra o fluxo financeiro e mantém disciplina dentro e fora das prisões.

São modelos complementares que, juntos, constroem uma forma de governança paralela.

O Estado, dividido entre esferas e interesses, tenta conter um problema que já é estrutural. O resultado é um país com dois regimes em operação:

  • Um, formal, sustentado por leis e burocracia.

  • Outro, informal, movido por dinheiro e coerção.

As facções já entenderam como navegar entre os dois. Controlam rotas, portos, empresas e pessoas — e, indo além, aprenderam a se misturar à economia legal.

Se você espera a resposta para o título dessa história… Na verdade, a questão aqui não é se o Brasil caminha para se tornar um narcoestado. É perceber que ele já vive parte dessa lógica: um Estado onde o crime, em diversas regiões, já coleta, administra e investe melhor do que quem deveria controlá-las.

fonte: secom

 
 
 
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